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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Por não estarem distraídos


Numa noite quente de outono, brindávamos a vida, o sucesso e até o cancelamento de uma visita indesejada. Nos certificamos que a felicidade estava nas coisas mais simples da vida, "um encontro entre amigas". Entre uma história e outra, surgiu uma explicação, "é preciso estar distraído"... e foi então que resolvi postar este texto aqui. 

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector


*Ganhei este texto de presente da minha querida e amada amiga carioca Di.

domingo, 25 de abril de 2010

As estradas

As estradas nas quais viajo estão sempre com a mesma paisagem, mas nunca com as mesmas emoções. Elas se modificam em minha mente conforme minhas experiências mais recentes e sensações. As estradas muitas vezes refletem dias monótonos, quase parados... calados. Eu adormeço. Eu paro. É necessário. Outras vezes as estradas parecem uma longa sessão de terapia. Me examinam, me analisam e me criticam. Minha sorte é que elas trazem respostas e eu não saio. É uma espécie de voz ou pensamento com som, não sei dizer, mas fala comigo e tem o som da minha própria voz. Nesta hora, me calo, escuto, compreendo e obedeço. Tenho notado que as estradas estão me trazendo sabedoria, inclusive alegria. Eu me modifico. As estradas que antes pareciam um castigo, por serem longas e iguais, hoje reservam um tempo só pra mim, "tempo de me redescobrir".

Natália Lima - Abr/2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Hoje é Dia da Terra

E nós que achávamos que a Terra não era como nós. Pensávamos até pouco tempo que ela era eterna!

A coisa ficou tão séria, que agora estamos até dando ênfase a comemoração do seu dia. Acho que funciona como uma forma de alerta.
Que medo que dá! Será que iremos comemorar mais uma vez? Um pergunta que não calar, afinal, diante de nuvens de cinzas, tempestades, terremotos, desabamentos e desigualdade social, é difícil de acreditar que ela ainda possa durar muito tempo.

Como hoje é dia de comemorar, presenteie a Terra como se fosse aquele seu amigo querido ou membro da família, cuidando dela, tornando-a um espaço digno de se viver,  com menos fumaça, menos lixo, menos desprezo, dê a Terra o que ela merece - "paz", ela precisa respirar, porque senão pode ser tarde demais.

Reflita, a Terra está envelhecendo e ela precisa de você!

Desejo sinceramente que a Terra possa ser usada de forma mais sustentável, para que todas as futuras gerações tenham também a oportunidade de conhecê-la!

O que você fará pela Terra hoje?
Natália Lima - Abr/2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fraseando

Quando eu era criança sonhava em poder voar. Hoje vejo como é bom caminhar com os pés no chão!

Natália Lima - Jan / 2010

Fraseando


Minha mãe sempre me dizia: "Nunca faça promessas, senão você terá que cumpri-lás."

Natália Lima - Abr/2010

Questionamentos e certezas

Que coração é esse?
Coração que sofre e continua a bater
Coração que cicatriza e volta a doer

Que pensamento é esse?
Pensamento que traz certezas da felicidade
Pensamento que trai e traz de volta a tristeza

Que vida é essa?
Vida de aprendizados e crescimento
Vida de esquecimento que me faz emburrecer

Que vontade é essa?
Vontade que de criar alternativas pra melhor se viver
Vontade de errar que me faz morrer

Mas que morte é essa?
Morte que me separa
Morte que me faz reviver

Mas que enfim me faz reviver

Jun/2007

A chuva

A chuva que cai poderia trazer doces lembranças de um amor que de tão leve e ardente se beneficiou de cada gota. Mas hoje, a chuva não traz as lembranças que o pensamento gostaria de ter. Porque antes na ausência da leveza e da entrega, a chuva apenas serviu pra tornar cinza a paisagem. Quem me dera sentir a chuva cair como o amor que desliza pelo corpo, acalmando, libertando e revivendo. Malditos os dias de chuva em que não me molhei.

Natália Lima - Mai/2008

Eu me surpreendo


Eu me surpreendo com os que foram e estão sempre voltando, com os que enganaram e continuam enganando, com os que esquecem que na vida todo efeito tem uma causa, com minha capacidade de não adoecer com a doença do homem, com o crescimento que nasce da dor, com a certeza que na vida ainda o que vale é o amor.

Não será surpresa saber que continuarei a me surpreender!

Natália Lima - Ago/2007